A MORTE DE EMPÉDOCLES, Jean-Marie Straub & Danièle Huillet, 1987
por Jean-Claude Guiguet
Porque recusa a lei da corrupção erigida em norma, o filósofo Empédocles é banido da cidade de Agrigento. Ele vai se submeter ou se demitir? Após um último acesso de revolta em que descreve o horror do mundo que está por vir, ele opta pelo suicídio.
Antes, terá ainda tempo de recolocar os magistrados da República em seus devidos lugares, de mandar às favas os bons sentimentos dos choramingões hipócritas, e de contemplar por uma última vez a luz acariciando o rosto do discípulo bem amado.
Fiéis a eles mesmos, exigentes, livres, bastante calorosos e recusando uma vez mais se deixar seduzir pelas falsas aparências do cinema, os Straub nos oferecem um filme de uma força e de uma verdade desconcertantes.
Logo percebemos que essa terra, de uma beleza milenar que devolve a tela de cinema à clareza vibrante de uma Sicília explodindo de sol, exprime o lamento da nossa e da sua destruição presente. Através de Empédocles, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet falam evidentemente de hoje: as palavras, o ritmo, a musicalidade do texto da tragédia de Hölderlin se unem bem naturalmente ao concerto das cigarras cortando conscienciosamente o silêncio do verão siciliano. De um mundo em sua aurora ao planeta saqueado de hoje em dia pelos apóstolos do lucro, a compaixão do olhar dos Straub revela, com a mesma lucidez e para além do espaço e do tempo, a amplitude do desastre.
Como Empédocles rejeitando os traficantes de mitos falsificados, o cinema da clarividência, longe da ciência e da astúcia, se radicaliza aqui, recrudesce sua resistência para despertar as consciências sonolentas, iluminar o olhar, reagir contra o torpor. Ele mostra, com uma clareza assustadora, a chegada dos novos ídolos, esses padres tecnocratas da concorrência e da competitividade que nos vendem suas tranqueiras sem vergonha no mercado negro do progresso.
E pensar que ainda não entendemos nada: vivemos com ódio uns dos outros, trabalhamos sem convicção, corremos atrás do dinheiro de que não precisamos para morrer um dia sem que nada tenha realmente acontecido em nossas vidas. Sim, estamos em maus lençóis. A Morte de Empédocles nos chama à ordem: os assassinos estão entre nós.
(Libération, outubro 1987)
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sexta-feira, 6 de março de 2015