Luís Miguel Oliveira sobre Léonce Perret

Léonce Perret (1880-1935) é um daqueles pioneiros cuja obra foi caindo num semi-esquecimento (ou mesmo num esquecimento total) ao longo dos anos, em parte acentuado pelo desaparecimento dos materiais e dos filmes. Teve um percurso com aspectos curiosos. Menos por ter começado nos palcos de teatro, como actor, transitando daí para o cinema, ainda como actor, e passando depois à realização (no que é um trajecto bastante comum). E mais por ter sido um dos primeiros franceses a tentar a sorte no cinema americano – para onde seguiu em 1917, chegando a fundar sua própria companhia em 1921, a Perret Productions, que no entanto teria vida curta. Na América, mas já depois de fechada a sua empresa, Perret assinou (para a Famous Players-Lasky) um Madame Sans Gêne, em 1924, hoje um “lost movie”, que deu que falar e que era um dos filmes preferidos de Gloria Swanson de entre todos os que fizera. Le Haleur, realizado em 1911, é um filme da fase inicial da carreira de Perret, que se caracteriza, segundo podemos saber, pela insistência nos cenários naturais e pelo à vontade que neles Perret revelava. É evidentemente, um dos factores que mais salta à vista no visionamento de Le Haleur, sobretudo pelo seu tratamento simbólico. Filme fatalista sobre a “reversibilidade” da carga simbólico da natureza e dos objectos, é o facto de ser tão curto e tão despojado que o torna surpreendente. Só há dois movimentos: primeiro, a felicidade, com os noivos e o casamento; depois a noiva cai fulminada, abruptamente, como que atingida por um raio, e entra-se no segundo movimento (a infelicidade), com a dor do noivo a ser acompanhada pelos mesmos cenários e pelos mesmos elementos (as árvores, as flores), agora exprimindo emoções e sensações de sinal contrário. Como exploração do poder “transfigurador” do cinema trata-se de uma curiosíssima (e sequíssima) experiência.

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LÉONCE PERRET, LUIS MIGUEL OLIVEIRA

quinta-feira, 27 de julho de 2017

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