• Menu
  • Lycoris
  • Category
    • Animation
    • Nature
    • People
    • Technology
    • Vogue
    • Other
  • Tools
    • CSS
    • jQuery
    • Cookies
    • Wicked
  • Menu
    • CSS
    • jQuery
    • Cookies
    • Wicked
  • Sub Menu
    • CSS
    • jQuery
    • Cookies
    • Wicked

CZARABOX

[ WORDS on IMAGES. ]

JEAN-CLAUDE ROUSSEAU LUIZ SOARES JÚNIOR STÉPHANE BOUQUET LUZ BRANCA, Bouquet sobre Rousseau

LUZ BRANCA, Bouquet sobre Rousseau


Luz branca. Sobre o cinema de Jean-Claude Rousseau.


No primeiro plano do primeiro filme: o nome de um vilarejo sobre um mapa: Le Blanc. É uma direção a seguir para cada filme que virá, uma orientação a manter. É isto o que a jovem contempla pela janela, o imóvel branco diante dela; o cineasta solitário detrás de sua câmera ( primeiro super 8, depois digital), é isto o que ele olha, o branco, as coisas que retém a luz, o acontecimento sem limites e que, quando chega, se chegar, excede todo cadre: um para além da janela, para além do plano. Todas as janelas da obra de Jean-Claude Rousseau, e há muitas em seus filmes, contém esta tensão que se encaminha a este além, que podemos apenas indicar, mas nunca absolutamente nomear ( daí o fato de que a linguagem, de um filme a outro, se reduza a conversações de tropeço, insignificantes); todas nos orientam para o evento que chega, que acaba talvez por vir às custas do tempo, da duração. Assim, um dos mais belos planos de toda a obra é, em Keep in touch, aquele dos patinadores sombrios sobre a superfície branca do gelo: uma longa agitação do negro sobre “ O Branco”, um certo estado da presença e nada mais. Este é o caminho único e sempre recomeçado deste cineasta essencial. Um caminho aliás paradoxal, uma imobilidade de trajetória em geral, onde os quartos de hotel, uns após os outros, de Venise n’existe pas a Lettre à Roberto, valem como indicações de deslocamento. Deslocamo-nos, e agora esperamos. Este “esperamos” é, claro, o próprio cineasta, que se filma à vontade, com freqüência de costas, mas trata-se de qualquer um 1 também: um homem médio, indiferente, sem qualidades, um funcionário de si mesmo, ocupando este lugar ( ele mesmo) como uma profissão que se exerce, um dever, como uma folha que folheamos indiferentemente num magazine. Jean-Claude Rousseau continua uma certa linhagem de herói da “desaparição” 2, que olha pela janela, e assim vai: fora, há um mundo que, às vezes, por um milagre, é branco ou luminoso, e portanto eu escrevo ( eu filmo) que existe um mundo às vezes branco: esta é a razão de tantas folhas virgem que assombram seus filmes, estas extensões de neve em Keep in touch, estes pedaços de bobinas super 8 que constituem refrações claras no negro, este caderno vazio de Contretemps. E também estes planos inumeráveis e repetidos que filmam a passagem do tempo como uma pura aventura da luz. Isto quer dizer que o mundo para Rousseau, o mundo presente, carnal, real, não possui interesse ou sentido? Claro que não. O mundo real possui um sentido, justamente.
O mundo real também designa uma direção: daquilo que se ausenta, que buscamos invariável, infatigavelmente à janela. Desejo ou Eros são os nomes desta ausência, desta presença ainda a conquistar, a possuir. Desejo vem do latim desiderare, literalmente “cessar de ver o astro”. Cada filme de Rousseau é distendido em direção à janela como um empregado espera que as horas passem, uma mulher que os homens voltem, como um sentinela espreita as estrelas. Cada filme põe uma questão polimorfa: onde está o astro? Onde, tua voz ( a do destinatário epistolar, por exemplo, que La valée close não nos deixa ouvir)? Onde, teu corpo? Teu rosto? Onde está o teu rosto? Pois Rousseau não possui fascínio distinto do que entretinha Simone Weil; ele faz de seus filmes a experiência de uma vida radical, ou antes, a experiência radical de viver assombrado pelo interesse constante pela “graça”, ou seja, do dom incompreensível daquilo que nos falta. Os filmes dizem todos a mesma coisa, rondam sempre em torno desta mesma questão do lugar inencontrável. “Onde?” Sem dúvida, certos filmes ( Jeune femme à la fenêtre lisant une lettre ou Les Antiquittés de Rome) propõem antes uma resposta espacial: são homenagens à geometria e às formas abstratas, constroem uma localidade de linhas para a chegada do acontecimento ( eis o porque do mapa geográfico que abre a obra). Outros ( Vénise n’existe pas, Keep in touch, ou Juste avant l’orage) buscam antes a resposta no lento recolhimento da contemplação: barcos que passam sobre a laguna, variações da luz, lentidão de uma refeição, patas de pássaros pousadas sobre a neve: a questão “onde?” se experimenta agora no desafio de permanecer ali, a conservar sua coragem de permanecer.
É uma dicotomia um pouco especiosa, pois evidentemente existe tempo no espaço e inversamente, mas enfim, é uma forma cômoda de traçar as linhas de tensão dos filmes, de classificá-los segundo certas lógicas de construção.
Depois chega Clément, o bem nomeado. Clément é o herói de um dos últimos filmes ( uma outra maravilha) de Rousseau: 
Faibles amusements. Ele encarna, pela primeira vez, o nome, o rosto e o corpo do desejo. Embora o filme conserve uma certa ambigüidade voluntária ( o cineasta e o herói compartilham o mesmo quarto, o mesmo leito?), fica claro, no entanto, em um plano magnífico, que eles não compartilham o mesmo olhar: um ( Rousseau), sempre postado em sua invariável janela, à espera do que ele se priva de ver; o outro ( Clément), do lado de fora, no balcão, tão longe, tão próximo. Esta irrupção de um rosto preciso muda portanto o caráter do dom, mas não cura a ausência.
Certo, temos um avanço, 
um passo para, e Faibles amusements é o primeiro filme onde Rousseau filma seu próprio corpo em deslocamento ( no caso, num barco), ao invés de filmar de costas os signos do deslocamento- carro, caminho, barco, hotel, etc. Um passo, portanto, foi dado: a graça tornou-se palpável: e daí? é preciso ainda saltar através da janela, é preciso ainda saltar.
Stéphane Bouquet, junho 2005.
Tradução: Luiz Soares Júnior. (in Blog DICIONÁRIOS DE CINEMA)
1. No texto original: On, c’est le cinéaste certes (...) mais c’est “on” aussi bien. On é um pronome de indeterminação em francês que se refere ( ou refere) a qualquer ( um?), a nenhuma pessoa ( pronominal) em específico. Rousseau filma Rousseau, mas o filma como alguém que pertence ao horizonte indeterminado, movediço e nebuloso do on: como um qualquer.
2. effacement: apagamento ( de traço), desaparecimento, desaparição
DoxDoxDox
Add Comment
JEAN-CLAUDE ROUSSEAU, LUIZ SOARES JÚNIOR, STÉPHANE BOUQUET
sexta-feira, 29 de junho de 2012
  • Share
  • Share

Related Posts

Newer Older Home

Label

ABEL GANCE ADRIAN MARTIN AKASAKA DAISUKE ALAIN BERGALA ALAIN RESNAIS ALBERT SERRA ALEXANDER MEDVEDKINE ALEXIS TIOSECO ANA MARIZ ANDRÉ BAZIN ANDRÉA PICARD ANDY RECTOR ANITA LEANDRO ANNE MARIE STRETTER ANNE PHILIP ANTOINE THIRION ANTÓNIO CÃMARA ANTÓNIO CAMPOS ANTÓNIO GUERREIRO ARIANE GAUDEAUX ARTAVAZD PELECHIAN BARRETT HODSON BERTRAND TAVERNIER BILL KROHN BOB DYLAN BUÑUEL CAHIERS DU CINEMA CARLOS MELO FERREIRA CARLOSS JAMES CHAMBERLIN CECIL B. DEMILLE CHAPLIN CHRIS MARKER CHRISTA FULLER CHRISTIAN BRAAD THOMSEN CHRISTIAN JUNGEN CHRISTIAN KEATHLEY CLAIRE DENIS COTTAFAVI CRAIG KELLER CYRIL NEYRAT D. H. LAWRENCE DAMIEN HIRST DANIEL FAIRFAX DANIEL KASMAN DANIEL REIFFERSCHEID DANIELE HUILLET DANIELLE HUILLET DARIO ARGENTO DAVE KEHR DAVID BONNEVILLE DAVID BORDWELL DAVID FOSTER WALLACE DAVID LYNCH DAVID PHELPS DAVID STERRITT DAVID YON DELEUZE DIOGO VAZ PINTO DOMINIQUE PAINI DONALD FOREMAN DREYER EDGAR MORIN EGIL TORNQVIST EMILIANO AQUINO EMILIE BICKERTON EMMA GOLDMAN EMMANUEL SIETY ERIC ROHMER F. J. OSSANG FERGUS DALY FILMOLOGIA FILOSOFIA FOTOGRAFIA FRANCIS BACON FREDERIC JAMESON GALEYEV GEORGE LUCAS GEORGE ORWELL GEORGES BATAILLE GÉRARD LEBLANC GINA TELAROLI GIORGIO AGAMBEN GIUSEPPE BERTOLUCCI GLAUBER ROCHA GUIONISMO GUS VAN SANT GUY DEBORD HAL HARTLEY HANNAH ARENDT HARUN FAROCKI HAWKS HENRI BEHAR HENRI-DAVID THOREAU HERVÉ LE ROUX HIROSHI TESHIGAHARA HITCHCOCK HOLDERLIN HONG SANG-SOO HOWARD HAWKS IMAGENS CONTEMPORANEAS INGMAR BERGMAN IRMGARD EMMELHAINZ ISAAC JULIEN J.R.JONES JACQUES AUMONT JACQUES LOURCELLES JACQUES RIVETTE JACQUES ROZIER JAMES QUANDT JARON LANIER JEAN EPSTEIN JEAN NARBONI JEAN PIERRE GORIN JEAN RENOIR JEAN-BAPTISTE THORET JEAN-CLAUDE GUIGUET JEAN-CLAUDE ROSSEAU JEAN-CLAUDE ROUSSEAU JEAN-JACQUES BIRGÉ JEAN-LOUIS COMOLLI JEAN-LUC GODARD JEAN-MARC LALANNE JEAN-MARIE STRAUB JEAN-PIERRE GORIN JIM JARMUSCH JOAN DIDION JOANA RODRIGUES JOÃO BÉNARD DA COSTA JOÃO BOTELHO JOÃO CÉSAR MONTEIRO JOÃO MÁRIO GRILO JOÃO SOUSA CARDOSO JOHAN VAN DER KEUKEN JOHN CARPENTER JOHN CASSAVETES JOHN FORD JOHN WAYNE jonas mekas JONATHAN ROSENBAUM JORGE SILVA MELO JOSÉ ARROYO JOSÉ BARATA MOURA JOSÉ BRAGANÇA DE MIRANDA JOSE GIL JOSÉ OLIVEIRA JOSEPH CAMPBELL KARL MARX KATHERYN BIGELOW KIMBERLY LINDBERGS KING VIDOR KOJI WAKAMATSU LAURENT CHOLLET LÉONCE PERRET LEOS CARAX LIKLOS JANSCÓ LOUIS SKORECKI LUC MOULLET LUIS MENDONÇA LUIS MIGUEL OLIVEIRA LUIZ CARLOS OLIVEIRA JR LUIZ SOARES JÚNIOR MALICK MALTE HAGENER MANNY FARBER MANOEL DE OLIVEIRA MANUEL MOZOS MANUEL S. FONSECA MANUELA PENAFRIA MARGUERITE DURAS MARIA FILOMENA MOLDER MARIO BAVA MÁRIO FERNANDES MARQUÊS DE SADE MARTIN BUBER MARTIN HEIDEGGER MASAO ADACHI MELISSA GREGG MICHEL DELAHAYE MICHEL MOURLET MICHELANGELO ANTONIONI MIGUEL DOMINGUES MIGUEL MARIAS MINNELLI MURIEL DREYFUS NANCY COKER NEVILLE ROWLEY NEWSREEL NICHOLAS RAY NICK DRAKE NICOLE BRENEZ NIKA BOHINC NOAM CHOMSKY NOBUHIRO SUWA OLIVIER PIERRE ORSON WELLES PATRICE BLOUIN PATRICE ROLLET PAULO ROCHA PECKINPAH PEDRO COSTA PEDRO EIRAS PEDRO SUSSEKIND PETER BOGDANOVICH PETER BRUNETTE PETER NESTLER PHILIPPE GARREL PHILIPPE GRANDRIEUX PIER PAOLO PASOLINI PIERRE CLEMENTI PIERRE CRETON PIERRE LÉON PIERRE-MARIE GOULET RAINER MARIA RILKE RAINER W. FASSBINDER RAQUEL SCHEFER RAUL BRANDÃO RAYMOND BELLOUR REVISTA LUMIÉRE RICHARD BRODY RITA AZEVEDO GOMES RITA BENIS RIVETTE ROBERT ALDRICH ROBERT KRAMER ROBERTO ACIOLI DE OLIVEIRA ROBERTO CHIESI ROGER CORMAN ROMAIN LECLER ROSSELLINI RYSZARD DABEK SACHA GUITRY SALLY SHAFTO SAMUEL FULLER SATYAJIT RAY SCOTT MACDONALD SERGE DANEY SÉRGIO DIAS BRANCO SHERMAN ALEXIE SHIGEHIKO HASUMI SHYAMALAN SIEGFRIED KRACAUER SIMON HARTOG SLAVOJ ZIZEK SOFIA TONICHER STARWARS STÉPHANE BOUQUET STEVE PERSALL STEVEN SPIELBERG STRAUB=HUILLET SUSAN SONTAG SYLVAIN GEORGE SYLVIE PIERRE TAG GALLAGHER TED FENDT TERESA VILLAVERDE TERRENCE MALICK THE JEONJU DIGITAL PROJECT 2011 THOM ANDERSEN THOMAS HARLAN TIR TROTSKY TRUFFAUT UMBERTO ECO VASCO CÂMARA VERTOV VINCENT MINELLI WALTER BENJAMIN WARREN BUCKLAND WERNER SCHROETER WOODY ALLEN ZANZIBAR FILMS
Com tecnologia do Blogger.

Pesquisar neste blogue

Browse by Date

  • ►  2023 (4)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  outubro (3)
  • ►  2021 (1)
    • ►  maio (1)
  • ►  2020 (2)
    • ►  maio (1)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2019 (2)
    • ►  abril (1)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2018 (7)
    • ►  novembro (2)
    • ►  fevereiro (2)
    • ►  janeiro (3)
  • ►  2017 (9)
    • ►  dezembro (3)
    • ►  novembro (2)
    • ►  agosto (1)
    • ►  julho (3)
  • ►  2016 (3)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  outubro (1)
    • ►  agosto (1)
  • ►  2015 (12)
    • ►  outubro (1)
    • ►  julho (1)
    • ►  abril (3)
    • ►  março (4)
    • ►  janeiro (3)
  • ►  2014 (7)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  novembro (1)
    • ►  setembro (1)
    • ►  julho (3)
    • ►  maio (1)
  • ►  2013 (21)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  outubro (1)
    • ►  abril (1)
    • ►  março (5)
    • ►  fevereiro (12)
  • ▼  2012 (53)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  novembro (7)
    • ►  outubro (8)
    • ►  setembro (2)
    • ►  agosto (2)
    • ▼  junho (5)
      • LUZ BRANCA, Bouquet sobre Rousseau
      • JEAN-CLAUDE ROUSSEAU's La Vallée Close
      • YOU ARE NOT A GADGET, Jaron Lanier
      • Umberto Eco on The History of Ugliness
      • EYES WIDE SHUT and THE LACANIAN REAL, by Zizek
    • ►  maio (9)
    • ►  abril (6)
    • ►  março (11)
    • ►  fevereiro (1)
  • ►  2011 (57)
    • ►  dezembro (6)
    • ►  novembro (1)
    • ►  setembro (5)
    • ►  agosto (1)
    • ►  julho (1)
    • ►  junho (7)
    • ►  maio (4)
    • ►  abril (6)
    • ►  março (11)
    • ►  fevereiro (10)
    • ►  janeiro (5)
  • ►  2010 (71)
    • ►  dezembro (11)
    • ►  novembro (16)
    • ►  outubro (3)
    • ►  setembro (2)
    • ►  agosto (5)
    • ►  julho (9)
    • ►  junho (4)
    • ►  maio (9)
    • ►  abril (1)
    • ►  março (4)
    • ►  fevereiro (7)
  • ►  2009 (40)
    • ►  dezembro (6)
    • ►  novembro (10)
    • ►  outubro (1)
    • ►  setembro (2)
    • ►  agosto (1)
    • ►  julho (2)
    • ►  junho (7)
    • ►  abril (6)
    • ►  março (5)

Contribuidores

  • DoxDoxDox
  • DoxDoxDox

copyright © 2017 CZARABOX All Right Reserved . Created by Idntheme . Powered by Blogger