• Menu
  • Lycoris
  • Category
    • Animation
    • Nature
    • People
    • Technology
    • Vogue
    • Other
  • Tools
    • CSS
    • jQuery
    • Cookies
    • Wicked
  • Menu
    • CSS
    • jQuery
    • Cookies
    • Wicked
  • Sub Menu
    • CSS
    • jQuery
    • Cookies
    • Wicked

CZARABOX

[ WORDS on IMAGES. ]

DREYER ROBERTO ACIOLI DE OLIVEIRA A Nudez no Cinema de Dreyer

A Nudez no Cinema de Dreyer


A Nudez no Cinema (VIII): Carl Theodor Dreyer

Roberto Acioli de Oliveira

in blog Cinema Europeu


De acordo
com Carl Dreyer
,
transformar a pele

em paisagem envolve profundamente aquelas potências figurativas
do cinema
, e sua
relação com a
verdade
 (1)



A Carne e a Alma

O cineasta dinamarquês Carl Dreyer realizou alguns filmes bastante marcados pelas questões religiosas. Evidentemente, isso levou à desdobramentos de ordem formal, pois a maioria dos personagens cobre bastante o corpo. Além do mais, no contexto religioso em questão, a alma vale mais do que o corpo. De qualquer forma, a nudez é uma raridade na obra de Dreyer. Jacques Aumont se refere a um plano de nudez num filme de Dreyer (1889-1968) de 1925, 
O Senhor da Casa (título português; Du skal ære din hustru). Um garoto inteiramente nu se lava na banheira enquanto sua irmã mais velha joga água nele. Mas não adianta procurar, se é que foi filmada, a cena foi cortada do filme – resta apenas uma fotografia. Na obra do cineasta dinamarquês, o máximo que encontramos são corpos seminus como aquele do carrasco que flagela Cristo, em Páginas do Livro de Satã (Blade af Satans bog, 1920). Às vezes a nudez aparece violentamente, Helofs Marte nua da cintura para cima durante seu processo por feitiçaria, em Dias de Ira (Dies Irae, 1943). A pele enrugada demonstra que se trata apenas de uma mulher cansada (imagem abaixo, à direita). Quase sempre, a nudez é apenas evocada, como quando Gertrud decide consumar o adultério com o jovem pianista, em Gertrud (1964). Ela se despe, porém nós ficamos no quarto ao lado e só o que vemos é a sombra dela tirando a roupa.


Enquanto a maioria
mostra 
apenas a nudez de
corpos jovens
, em Dias de IraCarl Dreyer não se rende ao
preconceito e nos mos
tra o
corpo cansado seminu de
uma velha senhora


Ou então, nos deparamos com outro tipo de nudez. Em 
O Vampiro (Vampyr, 1932), os pescoços das irmãs perseguidas pelo vampiro, destinados à inscrição da mordida fatal. Ou o pescoço de Joana, em O Martírio de Joana d’Arc (La Passion de Jeanne d’Arc, 1928), nós sabemos que ela será decapitada (última imagem do artigo). Ou ainda, em A Noiva de Glomdal (título português; Glomdalsbruder, 1926) o pescoço da jovem noiva de Glomdal, menos nu do que suas bochechas. Contudo, Aumont insiste que isso tudo quer dizer que Dreyer não procurava, à sua maneira, falar da nudez. A sugestão tem lá sua eficácia e a nudez evocada até agora remete mais ao suplício, ao sofrimento – um elemento muito próximo das temáticas de Dreyer. Da mesma forma, em toda a obra de Dreyer a nudez está profundamente ligada a uma idéia indissociavelmente cristã e pagã do corpo enquanto algo perecível, mas ao mesmo tempo desejável.


As palavras de Johannes
ressuscitam Inger em 
A Palavra.
No cin
ema sonoro, a Boca da Verdade traz a palavra interior, manifestação da alma. Nesse contexto, o corpo físico,
nu ou vestido
, é irrelevante (2)




A nudez deplorável de Marte, a “feiticeira” torturada pela Igreja (ou, pelo menos, por seus representantes, homens de corpos completamente cobertos, cujas cabeças são os únicos pontos onde vemos a pele nua), está lá para substituir a nudez de Anne, a jovem mulher ardente e de corpo mal desejado (como o corpo de Gertrud). No mesmo registro, mas no outro extremo, está a célebre cena no final de 
A Palavra (Ordet, 1954). A deploração de Inger por seu marido Mikkel: o corpo estendido da mulher, coberto por um manto com a cruz, contrapartida loura e luminosa do corpo sombrio da morena Léone (O Vampiro), a vampirizada. Enquanto alguém procura consolar Mikkel dizendo que a alma de Inger está em outro lugar, diante da presença inerte dela Mikkel soluça: “também amei o corpo dela!”. Como disse Jean-Marie Straub a propósito do cinema de Dreyer, “são paixões que estão nuas nesse cinema ‘feroz’”.

O que Dreyer
nos mostra através
do
 desnudar da sombra de Gertrud é a natureza mesma
da imagem cinematográfica
,
aquela de uma presença
na ausência
 (3)



Quanto ao nu propriamente dito, ele só é visível nas margens. No fundo da cena, onde os quadros que Dreyer jamais deixa de colocar nas paredes muitas vezes apresentam imagens de corpos nus como, por exemplo, em 
Mikaël (1924) e Gertrud. No primeiro filme, uma princesa e um jovem se encontram diante de um quadro mostrando um efebo nu que a faz exclamar: “Mas é você!” – que testemunha grosseiramente o amor ambíguo entre o personagem de Zoret, o pintor, por seu jovem protegido. Em Gertrud, a famosa cena “psicanalítica” diante da tapeçaria que mostra a mulher nua sendo devorada por cães. (imagem acima, à esquerda) Gertrud interrompe a conversa, olha para trás na direção da tapeçaria e afirma surpresa: “Isso, esse é o sonho que tive ontem à noite”. Mais discretamente, em Dias de Ira, o corpo do Crucificado, mais um corpo torturado, respondendo à tortura moral de Anne. Em Thorvaldsen (1949) Dreyer realizou um documentário sobre o escultor dinamarquês Betel Thorvaldsen (1770-1844), onde os corpos esculpidos contracenam com a luz e mostram/escondem seios, nádegas, ventres, ombros. (primeira imagem do artigo) Como definiu Aumont, toda uma pletora de mármore transformado em carne.


“É sua 
Paixão de
Joana d’Arc
 que assegura
a glória de Dreyer. Ele não está
indiferente ao fato de que esse
filme seja antes de tudo uma
sinfonia de rostos em primeiro
plano, totalmente nus. O nu
de alma e corpo, corpo e alma,
inseparavelmente e desde seus
primeiros filmes: tal seria, no
fim das contas, raro e denso,
o nu dreyeriano”
 (4)


1. BRENEZ, Nicole; MATARASSO, David. Peau. In: BERGALA, Alain; DÉNIEL, Jacques; LEBOUTTE, Patrick (orgs). Une Encyclopédie du Nu au Cinéma. Éditions Yellow Now/Studio 43 – MJC/Terre Neuve Dunkerque, 1991. P. 281.
2. DaLL’ASTA, Monica. Bouche (2). In: Op. Cit., P. 61.
3. D’ALLONNES, Fabrice Revault. Mouvement. In: Op. Cit., p. 245.
4. AUMONT, Jacques. Carl Theodor Dreyer. In: Op. Cit., p. 143.
DoxDoxDox
Add Comment
DREYER, ROBERTO ACIOLI DE OLIVEIRA
segunda-feira, 9 de abril de 2012
  • Share
  • Share

Related Posts

Newer Older Home

Label

ABEL GANCE ADRIAN MARTIN AKASAKA DAISUKE ALAIN BERGALA ALAIN RESNAIS ALBERT SERRA ALEXANDER MEDVEDKINE ALEXIS TIOSECO ANA MARIZ ANDRÉ BAZIN ANDRÉA PICARD ANDY RECTOR ANITA LEANDRO ANNE MARIE STRETTER ANNE PHILIP ANTOINE THIRION ANTÓNIO CÃMARA ANTÓNIO CAMPOS ANTÓNIO GUERREIRO ARIANE GAUDEAUX ARTAVAZD PELECHIAN BARRETT HODSON BERTRAND TAVERNIER BILL KROHN BOB DYLAN BUÑUEL CAHIERS DU CINEMA CARLOS MELO FERREIRA CARLOSS JAMES CHAMBERLIN CECIL B. DEMILLE CHAPLIN CHRIS MARKER CHRISTA FULLER CHRISTIAN BRAAD THOMSEN CHRISTIAN JUNGEN CHRISTIAN KEATHLEY CLAIRE DENIS COTTAFAVI CRAIG KELLER CYRIL NEYRAT D. H. LAWRENCE DAMIEN HIRST DANIEL FAIRFAX DANIEL KASMAN DANIEL REIFFERSCHEID DANIELE HUILLET DANIELLE HUILLET DARIO ARGENTO DAVE KEHR DAVID BONNEVILLE DAVID BORDWELL DAVID FOSTER WALLACE DAVID LYNCH DAVID PHELPS DAVID STERRITT DAVID YON DELEUZE DIOGO VAZ PINTO DOMINIQUE PAINI DONALD FOREMAN DREYER EDGAR MORIN EGIL TORNQVIST EMILIANO AQUINO EMILIE BICKERTON EMMA GOLDMAN EMMANUEL SIETY ERIC ROHMER F. J. OSSANG FERGUS DALY FILMOLOGIA FILOSOFIA FOTOGRAFIA FRANCIS BACON FREDERIC JAMESON GALEYEV GEORGE LUCAS GEORGE ORWELL GEORGES BATAILLE GÉRARD LEBLANC GINA TELAROLI GIORGIO AGAMBEN GIUSEPPE BERTOLUCCI GLAUBER ROCHA GUIONISMO GUS VAN SANT GUY DEBORD HAL HARTLEY HANNAH ARENDT HARUN FAROCKI HAWKS HENRI BEHAR HENRI-DAVID THOREAU HERVÉ LE ROUX HIROSHI TESHIGAHARA HITCHCOCK HOLDERLIN HONG SANG-SOO HOWARD HAWKS IMAGENS CONTEMPORANEAS INGMAR BERGMAN IRMGARD EMMELHAINZ ISAAC JULIEN J.R.JONES JACQUES AUMONT JACQUES LOURCELLES JACQUES RIVETTE JACQUES ROZIER JAMES QUANDT JARON LANIER JEAN EPSTEIN JEAN NARBONI JEAN PIERRE GORIN JEAN RENOIR JEAN-BAPTISTE THORET JEAN-CLAUDE GUIGUET JEAN-CLAUDE ROSSEAU JEAN-CLAUDE ROUSSEAU JEAN-JACQUES BIRGÉ JEAN-LOUIS COMOLLI JEAN-LUC GODARD JEAN-MARC LALANNE JEAN-MARIE STRAUB JEAN-PIERRE GORIN JIM JARMUSCH JOAN DIDION JOANA RODRIGUES JOÃO BÉNARD DA COSTA JOÃO BOTELHO JOÃO CÉSAR MONTEIRO JOÃO MÁRIO GRILO JOÃO SOUSA CARDOSO JOHAN VAN DER KEUKEN JOHN CARPENTER JOHN CASSAVETES JOHN FORD JOHN WAYNE jonas mekas JONATHAN ROSENBAUM JORGE SILVA MELO JOSÉ ARROYO JOSÉ BARATA MOURA JOSÉ BRAGANÇA DE MIRANDA JOSE GIL JOSÉ OLIVEIRA JOSEPH CAMPBELL KARL MARX KATHERYN BIGELOW KIMBERLY LINDBERGS KING VIDOR KOJI WAKAMATSU LAURENT CHOLLET LÉONCE PERRET LEOS CARAX LIKLOS JANSCÓ LOUIS SKORECKI LUC MOULLET LUIS MENDONÇA LUIS MIGUEL OLIVEIRA LUIZ CARLOS OLIVEIRA JR LUIZ SOARES JÚNIOR MALICK MALTE HAGENER MANNY FARBER MANOEL DE OLIVEIRA MANUEL MOZOS MANUEL S. FONSECA MANUELA PENAFRIA MARGUERITE DURAS MARIA FILOMENA MOLDER MARIO BAVA MÁRIO FERNANDES MARQUÊS DE SADE MARTIN BUBER MARTIN HEIDEGGER MASAO ADACHI MELISSA GREGG MICHEL DELAHAYE MICHEL MOURLET MICHELANGELO ANTONIONI MIGUEL DOMINGUES MIGUEL MARIAS MINNELLI MURIEL DREYFUS NANCY COKER NEVILLE ROWLEY NEWSREEL NICHOLAS RAY NICK DRAKE NICOLE BRENEZ NIKA BOHINC NOAM CHOMSKY NOBUHIRO SUWA OLIVIER PIERRE ORSON WELLES PATRICE BLOUIN PATRICE ROLLET PAULO ROCHA PECKINPAH PEDRO COSTA PEDRO EIRAS PEDRO SUSSEKIND PETER BOGDANOVICH PETER BRUNETTE PETER NESTLER PHILIPPE GARREL PHILIPPE GRANDRIEUX PIER PAOLO PASOLINI PIERRE CLEMENTI PIERRE CRETON PIERRE LÉON PIERRE-MARIE GOULET RAINER MARIA RILKE RAINER W. FASSBINDER RAQUEL SCHEFER RAUL BRANDÃO RAYMOND BELLOUR REVISTA LUMIÉRE RICHARD BRODY RITA AZEVEDO GOMES RITA BENIS RIVETTE ROBERT ALDRICH ROBERT KRAMER ROBERTO ACIOLI DE OLIVEIRA ROBERTO CHIESI ROGER CORMAN ROMAIN LECLER ROSSELLINI RYSZARD DABEK SACHA GUITRY SALLY SHAFTO SAMUEL FULLER SATYAJIT RAY SCOTT MACDONALD SERGE DANEY SÉRGIO DIAS BRANCO SHERMAN ALEXIE SHIGEHIKO HASUMI SHYAMALAN SIEGFRIED KRACAUER SIMON HARTOG SLAVOJ ZIZEK SOFIA TONICHER STARWARS STÉPHANE BOUQUET STEVE PERSALL STEVEN SPIELBERG STRAUB=HUILLET SUSAN SONTAG SYLVAIN GEORGE SYLVIE PIERRE TAG GALLAGHER TED FENDT TERESA VILLAVERDE TERRENCE MALICK THE JEONJU DIGITAL PROJECT 2011 THOM ANDERSEN THOMAS HARLAN TIR TROTSKY TRUFFAUT UMBERTO ECO VASCO CÂMARA VERTOV VINCENT MINELLI WALTER BENJAMIN WARREN BUCKLAND WERNER SCHROETER WOODY ALLEN ZANZIBAR FILMS
Com tecnologia do Blogger.

Pesquisar neste blogue

Browse by Date

  • ►  2023 (4)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  outubro (3)
  • ►  2021 (1)
    • ►  maio (1)
  • ►  2020 (2)
    • ►  maio (1)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2019 (2)
    • ►  abril (1)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2018 (7)
    • ►  novembro (2)
    • ►  fevereiro (2)
    • ►  janeiro (3)
  • ►  2017 (9)
    • ►  dezembro (3)
    • ►  novembro (2)
    • ►  agosto (1)
    • ►  julho (3)
  • ►  2016 (3)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  outubro (1)
    • ►  agosto (1)
  • ►  2015 (12)
    • ►  outubro (1)
    • ►  julho (1)
    • ►  abril (3)
    • ►  março (4)
    • ►  janeiro (3)
  • ►  2014 (7)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  novembro (1)
    • ►  setembro (1)
    • ►  julho (3)
    • ►  maio (1)
  • ►  2013 (21)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  outubro (1)
    • ►  abril (1)
    • ►  março (5)
    • ►  fevereiro (12)
  • ▼  2012 (53)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  novembro (7)
    • ►  outubro (8)
    • ►  setembro (2)
    • ►  agosto (2)
    • ►  junho (5)
    • ►  maio (9)
    • ▼  abril (6)
      • Rockefeller's Melancholy - Moullet sobre Antonioni
      • ORDET, por J. Bénard da Costa
      • "In place of a hermeneutics we need an erotics of ...
      • Godard : The Cinema In Doubt
      • Dreyer
      • A Nudez no Cinema de Dreyer
    • ►  março (11)
    • ►  fevereiro (1)
  • ►  2011 (57)
    • ►  dezembro (6)
    • ►  novembro (1)
    • ►  setembro (5)
    • ►  agosto (1)
    • ►  julho (1)
    • ►  junho (7)
    • ►  maio (4)
    • ►  abril (6)
    • ►  março (11)
    • ►  fevereiro (10)
    • ►  janeiro (5)
  • ►  2010 (71)
    • ►  dezembro (11)
    • ►  novembro (16)
    • ►  outubro (3)
    • ►  setembro (2)
    • ►  agosto (5)
    • ►  julho (9)
    • ►  junho (4)
    • ►  maio (9)
    • ►  abril (1)
    • ►  março (4)
    • ►  fevereiro (7)
  • ►  2009 (40)
    • ►  dezembro (6)
    • ►  novembro (10)
    • ►  outubro (1)
    • ►  setembro (2)
    • ►  agosto (1)
    • ►  julho (2)
    • ►  junho (7)
    • ►  abril (6)
    • ►  março (5)

Contribuidores

  • DoxDoxDox
  • DoxDoxDox

copyright © 2017 CZARABOX All Right Reserved . Created by Idntheme . Powered by Blogger